Quem tem medo de zoonose? Primeira Parte

Tanguy ama seu pet


Entre cães e gatos

Os animais representam importante papel em nossas vidas. Mais do que simples pets eles ocupam espaço em nossas famílias e em nossos corações. São entes mais do que queridos, nós os mimamos e os tratamos como bebes. Eles melhoram a saúde física, mental e emocional das pessoas. Reduzem o estresse, aumentam os níveis do bom colesterol, reduzem a pressão arterial, reforçam a imunidade, curam depressão dentre outros benefícios. No entanto para que o convívio permaneça salutar para animal e dono devemos estar atentos aos cuidados indispensáveis.


 Zoonose, que bicho é esse?
Sabe-se que temos muito mais semelhanças com os animais do que diferenças. São essas semelhanças que nos aproximam tanto de nossos bichinhos de estimação. Essas mesmas semelhanças podem fazer com que patógenos de animais sejam capazes de agredir também o homem e vice-versa.
As zoonoses resultam de uma complexa interação entre patógeno, hospedeiro e ambiente. Podem ser transmitidas por animais domésticos, silvestres ou parasitas desses animais.
Novas técnicas de biologia molecular vem sendo criadas e são de grande auxilio no diagnóstico dessas doenças.
Então zoonoses nada mais são do que doenças dos animais que podem ser transmissíveis ao homem.


A despeito dos inúmeros pontos positivos dos pets as zoonoses podem representar riscos especialmente para pessoas imunocomprometidas:

- esplenectomizados (quem sofreu a remoção cirúrgica do baço, um importante órgão no sistema imunológico)(2);
- doentes com Aids. Para os que desejam um bichinho de estimação é aconselhável cães com mais de 6 meses de idade ou gatos com mais de um ano. Precauções extras devem ser tomadas ao optar por animais oriundos de abrigos, pet shops, feiras de animais ou de criadores que ofereçam  muitas "facilidades". Os cuidados sanitários podem não ser muito padronizados nesses locais e isso os expõe  a maiores riscos.
Atualmente é de entendimento geral que os pets oferecem mais benefícios do que riscos ao portador do vírus HIV(2), contudo é desencorajada a aquisição de répteis, ferrets e outros animais exóticos.
- pessoas que estejam utilizando medicamentos imunossupressores: transplantados, em uso de quimioterapia para câncer, atrite reumatóide, lupus e outras doenças do colágeno. Esses doentes deveriam evitar o contato com animais, seus dejetos ou mesmo seu ambiente(2). Travesseiros de penas não deveriam ser usados(4).


Saiba como reduzir e eliminar riscos adotando precauções muito simples.

A  chave no combate às zoonoses está na saúde de seu pet e nos cuidados que você dispensa a ele. 
 
- Visitas regulares ao veterinário para exame cuidadoso de seu animalzinho;

- Escolha de vacinas de boa qualidade e em estabelecimentos confiáveis. A temperatura de armazenamento das vacinas é fundamental. Certifique-se de que é feito controle de temperatura das geladeiras. Algumas clínicas ficam fechadas à noite ou durante o fim de semana. É preciso que haja dispositivos que registrem a variação da temperatura das geladeiras onde as vacinas são armazenadas. Assim se houver queda de energia a ponto de comprometer sua eficácia deverão ser desprezadas. Você acredita que sua clínica favorita adotaria essa postura?
Há sensores eletrônicos (temperature and humidity data loggers), amplamente disponíveis no mercado, menores que um pendrive, que registram toda e qualquer oscilação de temperatura dentro de caixas de transporte de vacina ou hemocomponentes. Até o presente momento eles são que há de mais seguro, preciso e, ao menos por enquanto, "imunes" a adulteração de registros. Servem como controle de qualidade de empresas que realmente se responsabilizam pelo produto que fornecem.

- Controle sistemático de parasitas externos e internos dos animais (carrapatos, pulgas, piolhos, ácaros e verminoses) bem como o controle dessas pragas no ambiente.


- Controle de parasitas internos das pessoas que convivem diretamente com os animais. SIM, dos humanos, é isso mesmo! Faça exame parasitológico de fezes, pois você também poderá infectar seu cão. Para quem ainda não digeriu o fato lá vai : somos todos animais!

- Alimentação adequada. Se você oferece alimentação natural crua a seu cão ou gato esteja atento quanto à procedência das carnes que utiliza bem como aos cuidados no preparo.


Selecione os alimentos. Não compre cão por lebre.
- Combate sistemático a moscas, mosquitos, baratas e roedores.

- Lave as mãos depois de brincar com seu animal ou limpar suas caquinhas.

- Cães e gatos são muito fofos, mas procure não beijá-los. Evite também as lambidas, especialmente, nas  crianças. 


- Crianças e animais são naturalmente atraídos. O contato entre eles é extremamente benéfico para a saúde e desenvolvimento psicomotor. Crianças muitos pequenas costumam brincar de morder e levam tudo à boca. Evite que elas lambam ou mordam seu cão.


- Se você tem crianças e deseja adotar um cão é aconselhavél um exemplar já adulto. Eles não brincam de morder e arranham menos que os filhotes. São mais adequados ao convívio com crianças e  menos vulneráveis a brincadeiras "infantís" que possam feri-los ou mesmo mata-los. Nunca permita que crianças brinquem com  filhotes sem a supervisão de um adulto. Animais não são briquedos, a vida é frágil!

-Tenha cuidado ao selecionar seu pet. 


Zoonoses mais comumente associadas aos cães
 
Elas podem ser causadas por bactérias ou parasitas e apresentam diferentes formas de transmissão:
1- Transmissão Através da Saliva Fluidos ou Aerosois  contaminação por mordida, ou mesmo saliva sobre uma lesão já existente na pele,  mocosas ou vias aereas;
1.1 Virais
- Raiva, doença cusada por vírus e transmitida através da saliva (geralmente pela mordida), somente animais contaminados são transmissores. A maioria dos mamíferos é sucetível a ela, sendo equinos e bovinos os mais vulneráveis devido aos ataques por morcegos hematófagos. Não existe portador são. Não existe cura. O reservatório na natureza é o morcego.
É bom lembrar:
*morcegos insetívoros e frugívoros não transmitem a raiva. Esses animais controlam pragas e promovem a polinização.
1.2 Bacterianas
1.2.1- Pasteurella spp (P. canis e P. dogmatis) coco bacilo gram negativo que tanto pode ser um comensal ou patógeno na cavidade oral dos cães. Pode causar artrite séptica e osteomielite.  Outras espécies são apontadas por causarem infecções no homem e com maior prevalencia. 

1.2.2- Capnocytophaga canimorsus e C. cynodegmi, bactérias que fazem parte flora oral de cães e gatos saudáveis e são transmitidas pela mordida ou arranhadura desses animais. O C. canimorsus pode causar sepsis e meningite fulminante especialmente em pacientes esplenectomizados e etilistas.C. cynodegmi pode causar uma infecção menos severa, geralmente restrita a pele e tecidos moles. 
1.2.3- Brucella: transmissão por aerosois. A Brucella canis tem distribuição mundial, mas não costuma infectar o homem, sendo incomum notificações de infecções humanas por ela.  Os raros casos estão ligados a contato com placenta.
A brucelose humana está geralmente associada à B.melitensis, B. suis e B. abortus
1.2.4- Bordetella bronchiseptica -  Causa a tosse dos canis em cães, coriza em coelhos e rinite afrófica em leitões. A contaminação se dá por aerosois. Cães que habitam portos podem carregar pequenos números dessa bactéria em sua orafaringe.
Embora a infecção seja rara em humanos ela tem sido reportada em individuos imunocomprometidos.
                                                                                 
2-Transmissão Fecal no simples ato levar a mão suja à boca ou pelo consumo de hortaliças contaminadas você poderá ingerir, bactérias,  cistos ou ovos presentes nas fezes de animais contaminados;
2.1 Bacteriana
- Samonella spp sendo o sorotipo Typhimurium um dos mais reportados. Pode causar gastroenterites severas ou ser assintomática. Sua importancia decorre justamente dos portadores sãos, assintomáticos.

- Campylobacter spp: a infecção pode ser transmitida por cães adultos e filhotes e merece atenção  de criadores, especilamente porque humanos também podem transmiti-la aos cães. Essa infecção resulta em  sepsis e morte em filhotinhos rescem nascidos.
2.2 Por Protozoários
 
- Giardia spp ( G. lamblia, G. duodenalis ou G. intestinalis)
É um protozoário flagelado que parasita o sistema gastrointestinal causando diarréias. A forma contaminante é o cisto, forma bastante resistente que é eliminada junto com as fezes do animal. Os portadores, tanto animais quanto humanos, podem ser também assintomáticos. Merece especial atenção dos criadores pois essa infecção é capaz de dizimar ninhadas inteiras de cães ou gatos. 

2.3 Por parasitas intestinais 
2.3.1 Toxocara canis
 É um nemathelminto (verme redondo, lembrando espagueti) e causa a larva migrans viceral e a larva migrans ocular no homem. Os vermes adultos habitam o intestino delgado de cães não desverminados e ali liberam seus ovos. A contaminação do homem se dá pela ingestão dos ovos através das mãos contaminadas com dejetos do animal, solo contaminado ou vegetais crus não higienizados. É possível encontrar ovos do parasita nos pelos da região perianal dos animais infectados(8).
A infestação severa de filhotes pode leva-los a morte e requer tratamento especial a base de vermifugos e óleo mineral. A toxocaríase produz eosinofilia maciça tanto no cão quanto no homem.

2.3.2 Ancilostoma caninum e Ancilostoma braziliensis
Esses pequenos parasitas medem cerca de 10mm e habitam o intestino delgado de cães e gatos. São os agentes etiológicos da larva migrans cutânea, o "bicho geográfico". O ovos são eliminados nas fezes e em 24 a 48 horas eclodirão as larvas que se movimentam ativamente permanecendo no solo. Elas rompem a barreira cutânea intacta do homem e também do cão e cavam túneis sob a pele formando lesões serpinginosas e pruriticas.

2.3.3 Echinococus granulosos
Cães e outros mamíferos carnívoros sãos os hospedeiros definitivos desse pequeno verme achatado, cestódeo. Os vermes adultos habitam o intestino delgado desses animais e ali liberam seus ovos.
Na fase larvária os hospedeiros são ovinos, suinos, bovinos e muitos outros mamíferos, inclusive o homem. Os ovos ingeridos liberam o embrião hexacanto que alcança a corrente sanguínea. O embrião irá atingir um órgão: fígado, pulmão, rins ou cérebro e ali a larva irá assumir forma cistica e fixa formando o cisto hidático. A hidatidose assume importância e consequencias de acordo com sua localização.
 Os hospedeiros definitivos se infectam ao ingerirem carnes cruas contendo o cisto hidático.

2.3.4 Dipylidium caninum
Cestódeo frequente em cães e gatos de todas as partes do mundo, raramente é encontrado no homem. Uma tenia longa que mede entre 25 a 35com de comprimento sendo que alguns autores chegam a afirmar que possa atingir até 70cm. Tem como característica principal o fato de os proglotes grávidos eliminados com as fezes apresentarem movimento ativo, diferentemente de outras tenias.
Os hospedeiros intermediários são a pulga do cão (Ctenocephalides canis) e do gato (Ctenocephalides felis) e ocasionalmente a Pulex irritans (ataca mais o homem e ocasionalmente o cão) e o malófago, "piolho" do cão (Trichodectes canis). O homem se infesta circunstancialmente ao ingerir o inseto que abriga a forma larvária do verme.
A dipilidose humana é relativamente rara, sendo em geral observada em crianças. As infestações humanas costumam ser por pequeno número de parasitas e assintomáticas.

3- Transmissão através da água contaminada com urina de animais;

3.1 Leptospirose. Doenca transmitida por uma bactéria espiroqueta tanto pode ser assintomática como provocar reações exacerbadas que podem levar  a morte. Por ser tema extenso e de importancia será abordado posteriormente.


Algumas zoonoses conhecidas:


•Antrax
•Febre Amarela
•Doença de Lyme
•Leishmaniose
•Criptococose
•Toxoplasmose
•Anaplamose
•Babesiose
•Erlichiose
•Tifo
•Tuberculose
•Tétano
•Sporotricose
•Yersiniose
•Fasciolase
•Cisticercose
•Balantidíase
•Influenza
•Malária
•Hanseníase
•Peste
•Dermatofitoses
•Richetsioses
•Nocardiose
•Pscitacose
•Ornitose
•Doença de Chagas
•Listeriose
•Hantavirus
•H1N1
•Gripe aviária
•Dirofilariose
•Miiase
•Esquistossomose
•Encefalite de St. Louis


É bom saber:
Embora cães estejam relacionadados a algumas zoonoses os riscos de infectarem seus donos são pequenos e podem ser ainda mais reduzidos se adotarmos as simples precauções acima descritas.

Falaremos de algumas zoonoses ligadas a cães e gatos e suas principais manifestações em postagens subsequentes.


Antes de optar por um cão de raça pura considere suas características físicas, temperamento, necessidade de exercícios e aspectos ligados a saúde e cuidados. Um animal é e será sempre totalmente dependente. O convívio prazeiroso entre vocês se condiciona a sua disposição em atender à demanda do cão.


Você sabia que um cão bem tratado pode ultrapassar 15 anos de vida?


Adotar é um compromisso de longo prazo, pense nisso!

Sirley Vieira Velho
http://www.skonbull.com/

Direitos Reservados

Seja gentil, seja coerente e correto, cite a fonte original sempre! :)
 
Referências
1- Ricardo Veronesi - Doenças Infecciosas e Parasitárias ; Ed Guanabara Koogan, Rio de Janeiro- RJ
2- Glasser CA - Animal-associated opportunistic infections among persons infected with the human immunodeficiency virus ; Angulo FJ; Rooney JAs;Program in AIDS Prevention Studies, University of California, San Francisco 94105.
4-Camille N Kotton- Zoonoses From Dogs; http://www.uptodate.com/home/store.do. Maio 2010
5-Gillian D. et all - Increase in seroprevalence of canine leptospirosis and its risks factors; Ontario, Canada 2008.
6 -Kaplan JE; Masur H; Holmes KK- Guidelines for preventing opportunistic infections among HIV-infected persons--2002. Recommendations of the U.S. Public Health Service and the Infectious Diseases Society of America.
7- Centers for Disease Control and Prevention USA http://www.cdc.gov/healthypets/health_prof.htm#petscription
8- Amaral HL et all- Presença de ovos de Toxocara canis sobre pelo de cães: Um fator de risco para a larva migrans visceral. Universidade Federal de Pelotas, Capão do Leão, Rio Grande do Sul.

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