O hipotireoidismo em cães se apresenta com grande amplitude de sintomas e de diferentes formas. Ele pode ser tanto ocasional como genéticamente herdado. Mesmo cães eutireóideos (aqueles cuja tireóide funciona normalmente) poderão ter filhotes acometidos. Portanto criadores e veterinários comprometidos precisam conhecer muito bem os sintomas desse mal que atinge um número cada vez maior de Bulldogues Franceses.
Para alertar o quanto o hipotireoidismo é pouco conhecido abrimos o blog para o triste relato de uma amiga e proprietária de dois frenchies.Com a palavra Gabriela Schmitz
São Francisco rogai por nossos animaizinhos e por todas as criaturas de Deus. |
Encantei-me por esse frenchie logo que nasceu. Nunca manifestei meu desejo de tê-lo, pois na época, não tínhamos a intenção de adquirir outro BF (não por falta de vontade). Acompanhei seu crescimento até ele ser encaminhado ao seu novo proprietário. Oito meses após seu nascimento, ficamos sabendo, através da criadora, que ele estava à procura de um novo lar, pois seu atual proprietário iria devolvê-lo. Foi uma surpresa muito grande, pois na hora lembrei-me do bebezinho lindo por qual havia me apaixonado meses atrás. Eu estava obcecada com a idéia de tê-lo e em dar um lar onde ele pudesse ser amado e ter uma vida feliz e com dignidade. Depois de muitos email’s trocados, enfim, ele seria nosso.
Começamos a preparar a casa e as meninas (uma Bulldog Francesa, Dalila e uma Bull Terrier, Sophia) para a chegada de nosso menino e em 48h ele estava aqui. Veio de Salvador à Balneário Camburiu por uma Companhia Aérea. Estava ensopado de xixi e chorei ao vê-lo, de emoção, de alívio por ter chego são e salvo, e de pena. Como alguém pôde “devolver” uma criaturinha tão frágil? Emociono-me ao escrever, pois ele é um bebê que nunca esboçou alguma birra. É um anjinho...
Nossa Bull Terrier o recebeu como filho. A BF, o “engoliu” no início.
Sempre soubemos que havia algo errado. Na primeira semana quando voltávamos para casa ele não acordava. Chegamos a pensar que ele pudesse ter algum problema auditivo, mas logo percebemos que também não reagia a estímulos: não brincava, pouco andava e o que mais nos preocupou era que ele dormia sentado ou muitas vezes em pé até cambalear, assustar-se e voltar a dormir sentado.
Insuficiência cardíaca e derrame pleural o impedem de deitar-se. |
A doença causa disturbio na marcha fazendo com que ele arraste as patas fazendo escoriações crônicas no dorso dos dedos |
Não dorme, não deita, não descansa e regurgita com frequencia. Quase um zumbi! |
Em resumo, aos nove meses ele estava com um diagnóstico de displasia coxofemoral bilateral e, pasmem, já com data marcada para a cirurgia. Não me conformei. Enviei as radiografias para a criadora (foram analisadas por especialistas na Espanha) e as mostramos para um colega nosso ortopedista de humanos há 30 anos. Logo, percebi o quanto absurdo era o laudo, mesmo porque, só deve ser definitivo após os 24 meses, segundo a medicina veterinária. Não havia sinal de displasia, e isso era bem evidente.
Depois de percorrer vários vets, e nenhum entender a real dimensão do problema, encontramos a Dra. Dalila. Foi um sopro de esperança, pois se dedicou a entender melhor a raça especificamente. Foi na época em que suspeitei que meu frenchie tivesse megaesôfago, pois regurgitava praticamente em todas as refeições. Até então, nenhum veterinário sabia o que era e esquivavam-se nas tentativas de sugerir algo. A contragosto resolvemos fazer um teste e trocar a Alimentação Natural (usada há três anos aqui em casa) por ração (Eukanuba) e tudo piorou. Ele regurgitava muito e por duas vezes engasgou e quase o perdemos (não gosto nem de lembrar).
Quando o levei até a Dra. Dalila, ele estava magro, fraco e até a água que bebia voltava.
Estávamos desesperados e eu o estava alimentando em porções pequenas, cinco a seis vezes ao dia (AN), o segurando no colo e em posição ereta (como manda o figurino, pois acreditei tratar-se de megaesôfago). Tentei elevar o pote de comida, mas ele devorava, então dando na boca, conseguia administrar melhor suas refeições. Isso foi em janeiro, e ele estava com 14 meses. A radiografia, sem e depois com contraste, não mostrou megaesôfago, mas sim uma estenose traqueal sugestiva que poderia estar dificultando sua respiração enquanto comia, líquido no pulmão, além de uma hemivértebra. Até aí tudo bem, se ela não estivesse tão comprimida, a ponto de formar uma pequena deformidade em sua coluna que se percebe a olho nu. Na época, ele passou a tomar condroitina todos os dias na tentativa de reverter à estenose traqueal. Continuei o alimentando e segurando no colo (muitas vezes até ele dormir). Aos poucos foi melhorando, mas ainda regurgitava, e o pior, de madrugada. Nos revezamos para dormir durante dois ou três meses.
Foi quando ouvi falar, em um programa de TV, de refluxo gastresofágico. Neste dia passei 16 horas pesquisando na net. Tirei a gordura da alimentação dele e fui o adaptando a alguns hábitos alimentares de quem sofre do mal. Ele parou de regurgitar por certo período. Nunca fiz o exame para ter certeza de que se tratava de refluxo gástrico, pois deve ser por endoscopia, o que seria impossível para um cão com os problemas respiratórios que ele apresentava. Chegamos a suspeitar também de hérnia de hiato, pois seus sintomas são muito parecidos com os sintomas do refluxo gastresofágico. Mas eram somente suspeitas não confirmadas.
Cabeça grande, desproporcional ao corpo. Olhar vago e indiferente a tudo. |
Nosso bulldoguinho vinha tendo altos e baixos. Melhorava, piorava e assim ele foi vivendo, mas certamente não seria por muito tempo, pois apesar de todo o nosso cuidado já não sabíamos mais o que fazer em relação a sua alimentação. Foi quando enviei um email a Sirley do Canil Skonbull perguntando sobre as vantagens e desvantagens de castrar nossa BF fêmea. Não tínhamos a intenção de cruzá-la, apesar de ser linda e saudável, enfim, nunca foi nosso propósito, mesmo tendo um casal quando o adquirimos. Confiava muito na opinião da Sirley quanto à castração, pois, sempre soubemos o quanto ela e seu esposo Evandro amam e cuidam de seus cães. Neste email comentei, nas entrelinhas, o caso de nosso novo frenchie, na época já com um ano e meio de idade. Logo no início, sua primeira suspeita foi o Hipotireoidismo. Esta suspeita foi confirmando-se na troca de informações e nos relatos que fazia dele. Nenhum, nenhum veterinário sequer havia sugerido hipotireoidismo. Ficamos pasmos!!! Esta é a palavra mais apropriada para ser usada aqui.
Brincando de estátua. Brincando? Opa! Esse era o seu dia-a-dia até ser diagnosticado :( |
Colocamos nossa veterinária em contato com a Sirley e de criadora e bioquímica para veterinária, encontraram o melhor caminho para chegar ao tratamento adequado para nosso pequeno. Milagrosamente um vet rendeu-se aos conhecimentos de quem cria, conhece e ama incondicionalmente a raça.
Foi solicitado um exame de sangue para confirmar o diagnóstico suspeito, mas o resultado foi normal. Os sinais eram muitos por isso o sangue foi colhido novamente, desta vez encaminhado para um laboratório de humanos. Fiquei surpresa ao saber que o laboratório não iria processar o exame porque a amostra estava hemolisada. A amostra foi colhida da mesma forma que a primeira e a partir daí concluímos que o primeiro resultado estava errado. É incrível como alguém envolvido nesse tipo de atividade pode concluir um laudo sem o menor conhecimento dos detalhes e sem o menor respeito, cobrar sem ao menos pedir nova amostra. O cúmulo da falta de profissionalismo merecia PROCON.
Mas por orientação da Sirley, em acordo com Dra Dalila, começamos o tratamento com a reposição hormonal, que é sugerido como forma de diagnóstico, no dia 06 de agosto – nunca esquecerei esta data. Um dia após a primeira dose, já no domingo, ficou nítido e claro o efeito. Ele desinchou e parecia evidente seu aumento de energia. Não acreditamos, pois não estávamos esperando uma melhora tão brusca, e que, vem acontecendo, dia após dia. Ele começou a receber um sopro de vida e a cada dia nos agradece mostrando-se um novo cão, com novas habilidades. Seu olhar é outro e o que mais me impressiona é que nossa BF fêmea, que nunca havia dado bola para ele, passou a interagir como nunca. É como se ela dissesse: "Agora você pertence ao grupo!"
Logo no início do tratamento, a Sirley postou em seu blog - http://skonbull.blogspot.com/2011/08/hipotireoidismo-bulldog-frances-nanismo.html - o apanhado de informações mais completo que já havia lido sobre a doença. A cada tópico que lia me perguntava como ninguém, criador ou profissional da saúde animal, havia o diagnosticado antes. A cada linha lida, ficava mais evidente a confirmação do Hipotireoidismo Congênito dele. Eu simplesmente lia a descrição de nosso bebê, sem tirar nem pôr, inclusive seu baixo peso. Na maioria dos casos, o hipotireoidismo está associado ao ganho de peso. No caso do meu frenchie foi o contrário. Ele não ganhava peso e quando conseguíamos fazer isso eventualmente, ele perdia o peso com facilidade. Isso se deve ao fato de, em alguns dos casos, o cão acometido pela doença pode ter sérias complicações digestivas, como foi o caso dele.
Hoje, um mês e meio após o início do tratamento, como a Sirley dizia, temos outro cão. Hoje, ele interage com nossos dois outros cães, demonstra maior interesse nas pessoas, está mais alerta, mais esperto, nunca mais teve crises de apnéia a noite, não dorme mais sentado como sempre fez. Ainda regurgita eventualmente, mas são casos isolados, quando come com muito entusiasmo, com muita empolgação. Seu pêlo, que antes se destacava com grande facilidade parou de cair, está macio e com o brilho que nunca teve. Sua trufa está impressionantemente menos ressecada. Antes, tínhamos que passar vaselina a cada duas semanas e retirar a pele morta com uma esfoliação, pois em cima do narizinho dele, formava-se uma camada grossa, espessa e dura praticamente do dia para a noite. Seu olfato está mais apurado e enfim, hoje nosso bebê está com aquela carinha que só um BF sabe ter, seus olhos estão vivos, espertos e alertas, completamente diferente do cão com o qual convivemos por 10 meses: carinha inchada, olhar triste e cansado.
O tratamento dará respostas ao longo do tempo e será eterno, mas o fato de hoje, poder ter esperança em relação à saúde dele, isso não tem preço. Fico muito triste e completamente INDIGNADA com o que acontece com a criação no Brasil. Cães importados, sem certeza do histórico da linhagem, vêm fazendo cruzas múltiplas aqui no país. Um número cada vez maior de cães morrendo por diversos fatores, filhotes e mais filhotes, anomalias sendo vendidas a preço de ouro. Não gosto de pensar onde isso vai parar.Tudo isso por um só motivo: R$!!! Nada me convence do contrário. Aprimorar a raça (talvez fosse uma resposta)??? Não nestas condições.
Meu cão já foi diagnosticado com displasia, já teve suspeita de megaesôfago, refluxo gastresofágico, já "quase" virou estrelinha por pelo menos quatro vezes. Todas estas suposições foram descartadas depois do diagnóstico de hipotireoidismo. O sofrimento dele até então, seus graves problemas respiratórios e cardiovasculares, seu déficit mental, o fato de ficar constantemente com a linguinha para fora,... enfim... Tudo isso poderia ter sido evitado se ele tivesse tido tratamento desde que nasceu. Como isso seria possível? Conhecendo o histórico dos cães que estão reproduzindo ou então, quem sabe, suspeitando, indagando...
Macroglossia e estrabismo |
No momento, indignação é o que sinto além de um imenso alívio por poder estar tratando meu cãozinho a tempo.Agradeço todos os dias pelo fato dele estar conosco. Acredito piamente que se ele não tivesse vindo para nós, já teria virado estrelinha. Hoje ele está bem melhor, mas nunca será um cão normal em função de seu tratamento não ter começado na época devida. Mas como diz a própria Sirley: “Quem não gostaria de ter um eterno bebê em casa?”
A cinofilia me enoja. Me enoja ainda mais o que estão fazendo com os BF's em nosso país. Já estou chamando isso de enriquecimento ilícito. Deveria dar cadeia!! Tive um enorme desgaste emocional e finaceiro, noites sem poder dormir, perda da confiança nos criadores, precaução em relação a veterinários pretensamente engajados na saude do animal, especializados somente em $$$ e em nos trazer o conforto e a ilusão de tratamento. Espero realmente que a cinofilia e a medicina verterinária possam um dia resgatar a beleza e grandiosidade de seu fim!
De frenchies iguais ao meu, estamos cheios por aí. A diferença é que não ficamos sabendo deles. Mas eles estão ou "estiveram" aí, e são cães especiais, que precisam de cuidados especiais. Continuarão aparecendo, a cada dia mais. Alguns criadores cansam deles e aderem à frase: "Vendo TODO o meu plantel... machos e fêmeas de excelente linhagem...."
Seremos eternamente gratos a Sirley, criadora de Bulldog’s Franceses e a pessoa que consideramos um anjo para todos os BF’s. Quem a conhece e seu comprometimento com a criação, saberá certamente o quanto tenho certeza disso. Jamais haverá palavras para expressar nosso agradecimento e só posso afirmar que tudo que ela fez por nós e pelo nosso bebê, foi puramente Por Respeito à Vida!
Em momento algum, pensamos em adquirir a Dalila e nosso menino com o objetivo de criação. Obviamente, o pedigree dele é um belo "cartão de visitas", mas não foi por isso que o quis tanto. Às vezes, sou obrigada a acreditar que foi obra do destino.
Esta semana ouvi a seguinte frase: “Nem sempre temos o cão que gostaríamos de ter, mas certamente, temos o cão que precisaríamos ter”. Agradeço todos os dias por te-lo em nossas vidas. Nossa experiência com ele nos tornou pessoas melhores. Ele nos faz querer ser pessoas melhores.
Gabriela Schmitz
Arquiteta e Mãe de Cachorro.
P.S.: Espero ter ficado claro que a intenção da postagem não foi ofender ninguém. O único objetivo é tão somente alertar e informar.
Peço a Deus que confira humildade e sabedoria às pessoas que tem como privilégio serem formadoras de opinião ou que tem sobre os seus ombros o direito de tratar ou simplesmente induzir à resignação. Espero que possam buscar melhorar cada dia mais, não abandonando e nem deixando que o óbvio passe despercebido como fruto da desinformação ou do simples desdém.
Uau!!!!! Estou emocionadíssima!
ResponderExcluirSei exatamente o q é ter um cãozinho doente em casa, fruto do desserviço dos cachorreiros. É triste demais.
E o pior de tudo é ter disposição, dinheiro e querer tratar o animal e não achar nenhum veterinário competente e nem tratamento q melhore o cãozinho. É desesperador! É terrível! Eu não conseguia dormir. Minha vida era pesquisas na internet, livros e artigos.
Graças a Deus q existem anjos que aparecem em nossas vidas...vc é um deles Sirley!
Parabéns à mamãe do Toyo! Me solidarizo totalmente com a história deles. Toyo, apesar de tudo, é uma cãozinho de muita sorte, assim como o meu Bóris.
Um bjo
Bem Gabriela.
ResponderExcluirMe solidarizo tanto com você...
Inclusive assino em baixo sobre os criadores e os veterinários... INFELIZMENTE....
Fique com Deus!!
Meu Deus eu não aguentei, estou chorando de ler essa historia, fico feliz pois esta historia teve um final feliz, mas ao mesmo tempo fico triste de pensar em inúmeros casos que teve um final triste e os criadores que mais de 90% só pensam na rentabilidade, mas nossa esperança esta em pessoas como a Sirley, tive o privilégio de adquirir um francesinho de sua ninhada a Kaleena que é uma cachorrinha muito especial, linda e saudável que nos trás imensa alegria, meu marido e pergunta todos os dias "amor você não chora quanto olha pra Kaleena? de ver tamanha pureza e inocência, um verdadeiro anjo" Ela nos transmite essa pureza, paz e inocência é a nossa princesa.
ResponderExcluirParabéns Gabriela pela incansável busca pela saúde do seu bebê, pois a felicidade deles não tem preço :D
Beijos
Livia Hoffmann
Gabriela,
ResponderExcluirÉ realmente um absurdo o que esses anjos, os inocentes cães têm que passar por causa da cobiça e ignorância humana. A cinofilia tb me enoja. Mtas vezes o ser humano me enoja...
Tive várias experiências, inclusive uma pessoal mto complicada com bull inglês (que sofrem como os frenchies) pelos mesmos motivos.
Desejo muitas felicidades para vcs daqui pra frente! :)
Olá,
ResponderExcluirGostaria de entender até onde esse período em que o Toyo esteve em outro lar pode ter agravado a doença. Vcs sabem informar onde ele viveu e pq foi devolvido? Ele foi criado dos 2 meses aos 8/9 meses preso em gaiola ou tinha convívio com outros humanos e cães? É sabido que cães dessa raça não se adptam a solidão, mas até onde vão as consequencias? Acho que isso pode explicar melhor essa triste história...
É verdade, também percebo que afeto, carinho e companhia têm papel fundamental no desenvolvimento psicomotor, facilitando aquela conformação parruda, mas o que mais me encanta é o olhar alegre e sempre apaixonado que eles desenvolvem com o contato humano estreito.
ExcluirDiante de algumas doenças a carência afetiva pode ter um papel fundamental, mas olhando o pobre bichinho acho que faltou muito mais do que isso: faltou hormônio, faltou diagnóstico, faltou exame bem feito, faltou alguém sentar e estudar.
Não quero defender minha profissão de bioquímica, mas a realização de exames deveria ser atributo de quem se dedica só a isso. Já há uma gama muito grande de conhecimento a ser assimilado pelo veterinário. Há muito conhecimento embutido em saber interpretar exames. Fazer clínica veterinária, ser o técnico que faz o exame (RX, Ultrassom, EcoDoppler, exames de sangue para analise de células, eletrólitos, hormônios, sorologias diversas), fazer diagnóstico, operar, vender medicamentos, rações, perfumaria, caminhas, dar banho, tosar... Afinal o que será bem feito nisso tudo? Qual será o foco? $$$$? Não vislumbro outro objetivo...
Abraço