Quero cruzar meu frenchie


 Reprodução: na trama em que seu cão é o protagonista você não pode ser um mero expectador.





Amo meu orelhudinho demais e quero ter outro cãozinho com essa carinha. Você poderia me ajudar cedendo um de seus exemplares para cruzar com ele? Me indica alguém que o faça?



Antes de programar o casório...

Pense nisso:


Às vezes amar nossos animais é razão suficiente para que não os cruzemos. A cruza representa sempre um risco, por mais cuidadoso e calculado que seja o processo.
Um acasalamento envolve macho, fêmea e filhotes.
Ainda que nem todos os animais envolvidos no cruzamento sejam seus, tudo o que der errado de uma forma ou outra é de sua responsabilidade.
Animais podem se ferir ou mesmo morrer em decorrência de uma cobertura.
A  cesariana pode matar a fêmea e os filhotes dentre outras complicações.
Há doenças graves que podem ser transmitidas em um cruzamento e não apenas a brucelose.
Muitos dirão que isso é exceção, que são profecias ou a trombeta do apocalipse, baboseiras proferidas por criadores....
O dia em que uma "nhaca" dessas acontece com quem de fato gosta de seu bichinho (quem gosta mesmo e não aqueles que só fazem firula...) aí as pessoas param e: OPAH!!...

 Pense mais um pouco:

Amar um animalzinho como membro da família,  zelar por ele até que a morte separe dono e cão, não é algo corriqueiro. A afirmativa pode ser confirmada pesquisando-se na internet  fotos de "frenchies sauros" ou "dinos", digo, os velhinhos, desdentados, já ceguinhos, surdos, aqueles desgastados pelo tempo... A maioria dessas imagens serão localizadas em sites de organizações de resgate da raça ou CCZs. Isso põe em cheque o lindo amor incondicional e universal entre homem e cão. Encaminhar um filhote ainda é "o desafio" de quem se compromete com o animal.

Não raros donos chegam e respondem a um crivo de perguntas, assinam um contrato e levam o bichinho chamando de filho. Muitos desses "filhos" pouco tempo depois passam a viver confinados em uma área de serviço fazendo companhia a baldes e vassouras, são revendidos a canis onde viverão em um quadradinho de 1m². Irão dormir, comer e beber a 30cm de onde urinam e defecam ou mesmo serão mortos a pontapés. Não raramente alguns "pais" enjoam da cara dos filhos e simplesmente os descartam. Não feche os olhos diante do abandono, ele acontece principalmente com cães de raça. Aqueles que adotam vira-latas  não o fazem por status ou vaidades passageiras.


Há  criadores que optam pela castração ou exigem contrato de castração como forma de tentar assegurar um lar definitivo ao filhote (coitados, sempre se dão mal...). Tentam evitar alguns problemas de saúde e riscos ligados à reprodução realizada sem cuidados. Sempre encontrarão dificuldades ao mostrar esse contrato, pois a maioria dos que compram um filhote bonito não pensam somente na companhia, convívio prazeroso, lar seguro etc, mas sim na possibilidade de um dia convertê-lo em $$$$$$.

Continue pensando:


 Há também  a questão da saúde dos filhotes gerados. Os pombinhos devem ser eleitos para a cruza por terem boa saúde, temperamento e conformação. Mais do que serem parecidos com seu cãozinho, os bebês merecem ter vida digna e não de sofrimento advindos de doenças que poderiam ser evitadas (nisso até mesmo o criador experiente terá dificuldades e surpresas, imagine o zé mané ou marinheiro de primeira viagem).
Você como criador tem por obrigação zelar pela saúde de todos os animais envolvidos no cruzamento. Não diga: "Ah, mas não sou criador, só quero um filhote do meu cachorro". Será um criador sim! Será um criador promovendo uma única cruza ou injetando apenas um vidrinho de sêmen (o veterinário envolvido também é criador, embora possa querer se eximir das responsabilidades disso).

É tão mais barato, prático e seguro comprar ou adotar outro animal.

Considere isso:

Se acha que vale a pena e pretende cruzar seu doguito, então aja com responsabilidade. Estude bastante, adquira ao menos um livro ou ebook para os mais modernos. Inicie o preparo dos animais bem antes do cio. Escolha um bom veterinário. Peça ajuda ao criador que te vendeu os cães (se sentir que ele é sensato, comprometido e honesto, claro!).

Faça o dever de casa: responda essas perguntas básicas antes de partir para a aventura. 

Eis um checklist mínimo.

Ilustração do livro: Successful Dog Breeding

- Meu cão tem saúde, está em conformidade com o padrão e tem ótimo temperamento?
- Ele tem idade para cruzar?
-Tenho um BOM veterinário, de confiança e disponível 24 horas por dia?
- Tenho tempo, espaço e dinheiro para assumir outros, sei lá quantos,  filhotinhos? Sim, porque é impossível predizer quantos virão...
- Quais são os exames necessários para garantir o mínimo de saúde ao casal e aos  filhotes?
- Minha fêmea vai cruzar e agora? Vacinar ou não vacinar? Quando vacinar?
- A fêmea precisa de suplementos? Quais seriam seguros?
- O macho requer algum cuidado especial?
- Como elas engravidam? Monta natural ou inseminação artificial? Há inúmeras considerações sobre isso!
-  ...
- Ela está grávida: quais são os novos cuidados?
- Como e quando nascem os "bebês"?
  • quando sei que chegou a hora?
  • quando é o momento de intervir?
  • cesariana ou parto normal?
  • como devo agir durante e após o parto?
  • quem vai examinar os bebês? O que procurar no exame? Lembre-se: quem não sabe o que procura não reconhece quando encontra!

Ilustração do livro: Successful Dog Breeding

- O que é preciso ter e saber para receber a mamãe e cuidar bem da ninhada?
- A mãe sempre sabe o que fazer? O instinto é infalível?
- E se a mãe não puder amamentar?
- E se a mãe morrer no parto ou poucos dias depois? Eu sei como cuidar dos bebês sozinho ou deixarei que todos morram?
- E se os "bebês" não estiverem bem? Há como salvar um recém nascido "quase morto"?

Esteja certo de que responder ao questionário acima não será algo fácil.  Nem todas essas respostas estão na ponta da língua da maioria dos veterinários!

Às vezes essas perguntas são feitas quando já não é possível remediar o estrago. Se você não estiver preparado ou cercado de pessoas de bom nível profissional considere o desastre. Os prudentes conhecem a frase: If you fail to prepare, prepare to fail!
Depois virão as "fotinhas" lindas contando a alegria de presenciar "o milagre da vida" (dos que restaram,  descontados e omitidos todos os percalços, evidentemente...)

Perder um filhote é sempre doloroso para quem tem compromisso, mesmo em uma ninhada grande. Ainda que você tente ocultar a retirada do cadáver de junto da mãe acredite, as fêmeas sabem contar e ficam de coração partido exibindo sinais de tristeza e pesar quando um bebê morre. É claro que não se espera esse tipo de observação de um criador brucutu ou mongo!

Essa postagem e esse blog não tem objetivo de estimular a reprodução, muito pelo contrário. Dentre outros estimula a estudar, pensar se valem os riscos, lembrar das dores de cabeça, perda de noites de sono, latas e latas de Aptamil-Pré, Pré-Nan e afins (mais baratos e não matam filhotes como os "leitinhos cachorrizados") etc. Prezamos sobretudo a posse responsável!

Não arrisque a vida de seu bichinho, ele confia e só pode contar com você!


Atenção:
Se você gosta, cuida e cria seu cão como um "filho" certamente entenderá tudo o que estamos dizendo. Caso contrário, perdoe a perda de tempo.
Nem todas as informações destinam-se a todas as pessoas :-)


Todas as informações contidas nesse post são frutos de observação, estudo e percalços observados na criação de nossos cães, experiências de amigos e outros empenhados no resgate e proteção de animais.
Você sabia que um cão bem tratado pode ultrapassar 15 anos de vida? Compete a você criar um ambiente e condições saudáveis em que ele possa viver mais e melhor.
Adotar é um compromisso de longo prazo, pense nisso!
Sirley Vieira Velho
http://skonbull.blogspot.com.br
Seja gentil, seja coerente e correto cite a fonte original sempre!

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