Hipertermia não é febre.



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A Regulação Térmica

     A temperatura corporal normal é mantida através do equilíbrio entre produção de calor e sua dissipação. O aquecimento do corpo resulta dos processos metabólicos e da absorção de calor do ambiente.
     Conforme a temperatura do corpo aumenta o hipotálamo estimula o sistema nervoso autônomo a produzir, no cão, a ofegação /salivação e a vasodilatação cutânea para controlar a temperatura mantendo-a constante.



p://www.sabetudo.net/dicas-de-cuidados-com-os-animais-no-verao.html


Dissipando o calor

A evaporação é o principal mecanismo de perda de calor. Esse mecanismo torna-se,  no entanto, inefetivo se a umidade relativa do ar for igual ou superior a  75%.  No verão, estação quente e úmida na maior parte do Brasil, esse percentual é facilmente atingido ou ultrapassado.

A condução é outro método de dissipação do calor: transferência do calor para um objeto frio e adjacente ao corpo. Como exemplo podemos citar um hábito bem comum aos cães que é deitar sobre piso frio de barriga para baixo estendendo as patas traseiras para aumentar a superfície de contato.

A convecção: o calor é transferido para correntes de ar: vento, ventiladores etc.

No entanto nenhum desses princípios pode transferir calor de forma eficiente se a temperatura do ambiente for maior que a temperatura corporal do indivíduo.


*A disponibilidade de banheirinhas para imersão tem como principio a perda de calor por condução. Recentemente lançadas no mercado as coller vests se baseiam no mesmo principio, são coletes geladinhos que prometem refrescar os passeios caninos.


Febre e hipertermia não são sinônimos. Elas provocam a elevação da temperatura corporal, mas por diferentes causas e mecanismos.

Interpretação da temperatura corporal
A temperatura corporal é um sinal clínico, não um diagnóstico. Ela tem de ser interpretada no contexto de demais sinais e sintomas.  A oscilação na temperatura corporal pode representar até mesmo uma reação normal do organismo.

Quando a temperatura sobe

A elevação da temperatura corporal é acompanhada pelo aumento no consumo de oxigênio e débito metabólico que resulta em taquipnéia (ritmo respiratório acelerado) e taquicardia (aumento da frequência cardíaca).
Acima de 42ºC a fosforilação oxidativa (mecanismo de fornecimento energético para todas as células do corpo) não pode se completar e várias enzimas são desnaturadas deixando de funcionar.
Os hepatócitos (células do fígado), endotélio vascular (parede de vasos, artérias e veias) e tecido nervoso são os mais sensíveis aos efeitos do calor, mas todos os órgãos podem estar envolvidos e correm sério risco de falência.



Febre
É considerada a elevação da temperatura corporal associada a sinais clíinicos inexpecíficos. É uma resposta fisiológica de defesa contra agentes infecciosos ou  uma resposta infamatória.
A temperatura normal varia ao longo do dia (ritmo circadiano).  Ela é controlada pelo centro termorregulador localizado no interior do hipotálamo. O termostato que regula a calefação de uma residência se compara ao controle exercido pelo centro termorregulador.
Níveis elevados de prosglandinas (presente na reações inflamatórias em geral) elevam o nível do termostato aumentando a temperatura corporal. O centro termorregulador regula a temperatura através de respostas que levam à perda ou produção de calor, provocando respostas nervosas como tremor, contração muscular e vasconstricção. 

Os pirógenos

O termo pirógeno é utilizado para descrever substâncias que causam a febre.
Eles podem ser:
Exógenos, como as toxinas produzidas por bactérias e fungos, ação de algumas drogas dentre outros. Vírus induzem a produção de citoquinas, no entanto se enquadram como fator exógeno de estados febris.
Endógenos representadas pelas citocinas,  proteínas de baixo peso molecular que regulam processos imunes, inflamatórios e hematopoéticos. Um exemplo é a estimulação da proliferação de linfócitos durante a resposta imune à vacinação. Há também as citocinas que estimulam a produção de
granulócitos pela medula óssea. Algumas citocinas provocam febre e são chamadas pirogênicas. O interferon também pode ser considerado uma citoquina pirogênica, o fator de necrose tumoral etc.





Hipertermia 

Hipertermia se caracteriza pela elevação da temperatura corporal além do limite considerado normal. É o resultado do estresse térmico gerado pelo calor ambiente, pela incapacidade do organismo de dissipar calor ou pela combinação de ambos.
Ela não é sinônimo de febre (1,2,3).

Hipertermia severa ou heat stroke tem por definição a temperatura corporal ≥ 40,5 ºC acompanhada por disfunção do sistema nervoso central.

Hipertermia severa clássica (heat stroke): ocorre por exposição a temperatura elevada onde o individuo não tem chance de escapar do ambiente de risco. Exemplo disso é o que pode ocorrer com cães ou mesmo crianças pequenas deixados dentro de veículos estacionados ou idosos no calor europeu. Os idosos por terem reserva metabólica baixa não conseguem compensar a temperatura corporal com simples ventilador, se o ambiente não for resfriado eles morrem.  O mesmo pode ocorrer  com o uso de sopradores ou secadores, animais confinados em ambientes  quentes, animais amarrados ao sol ou por condições inadequadas de transporte.

Hipertermia severa por exercícios: Geralmente ocorre por exercitar o animal de forma excessiva e em dias quentes e úmidos.  A rabdomiólise tende a surgir de forma mais intensa nesse tipo de hipertermia. É considerada típica de atletas ou de jovens em treinamento militar. Aqui o excesso de atividade física, especialmente em dias quentes e úmidos, pode levar à morte animais atléticos, energéticos ou brincalhões.

As complicações mais frequentemente associadas à hipertermia classica ou severa são:
  • síndrome do desconforto respratório agudo;
  • coagulação intravascular disseminada;
  • insuficiencia renal aguda;
  • insuficiencia hepática;
  • hipoglicemia;
  • *rabdomiolise;
  • convulções;
  •  danos cerebrais;
  •  não é raro ocorrerem complicações tardias.

    *Rabdomiólise 
    A rabdomiólise é a condição provocada pela  necrose de células do músculo esquelético com liberação de seus constituintes intracelulares para a circulação. A gravidade é variável e depende da extensão do dano muscular. Podem ocorrer elevações nos níveis enzimáticos desde condições assintomáticas até casos extremos com desequilíbrio hidroeletrolítico, insuficiência renal aguda e morte.
    A representação clássica da rabdomiolise inclui urina marrom escuro (café) resultado da excreção de mioglobinas e elevação sérica de enzimas musculares (creatino fosfoquinase ou CPK), especialmente a fração MM, muscular esquelética. Além da elevação das enzimas musculares podem ocorres elevações das  enzimas hepáticas denotando dano sistêmico.
     Uma complicação comum da rabdomiólise é a falência renal devida à obstrução glomerular pelos pigmentos do grupo heme (mioglobinas).
    Alterações eletrolíticas incluem hipercalemia (nível elevado de potássio sérico), hipocalcemia (nível baixo de cálcio), severa hiperuricemia (ácido úrico elevado pela degradação das bases purínicas provenientes do dano muscular) e acidose metabólica.
    O tratamento geralmente é a prevenção dos sintomas pela hidratação de forma intensa e  precoce do animal que sofreu hipertermia.
    A rabdomiólise pode ser originada por diversas causas além da hipertermia, sendo a principal delas o trauma muscular (situações que provoquem sérias injúrias musculares como brigas entre os animais ou acidentes ).

    Danos cerebrais
    Estudos experimentais em ratos demonstraram que na hipertermia há reações inflamatórias. Altos níveis de citocinas, acúmulo de glutamato,  radicais hidroxila, dopamina e serotonina  no cérebro estão associados à gravidade do choque circulatório com consequente dano e isquemia neuronal. Alguns medicamentos podem reduzir os riscos de dano cerebral nessas condições extremas.




    Considerações caninas
    Todo cão deve ser preservado da hipertermia, independentemente de raça.
    • Seu metabolismo basal é mais alto que o do homem, portanto aquecem mais do que nós.
    • Cães de raça gigante proporcionalmente ao seu tamanho tem uma cavidade oral, dissipadora de calor muito reduzida tornando-os mais susceptíveis ao hiperaquecimento.
    • Cães cuja cavidade oral é reduzida pela face encurtada são mais susceptíveis. São eles os braquicefálicos como Bulldog Francês e Inglês, Pug, Shih Tzu, Boston Terrier, Grifon de Bruxelas, Boxer etc.
    • Circulação sanguínea: o pequeno volume de sangue (animais de porte pequeno e filhotes) limita a transferência de calor do corpo para a superfície da língua e cavidade oral que é onde se dá a evaporação para a regução térmica do cão.
    • Cães com longas ou densas pelagens como Chow Chow, por exemplo, podem estar sujeitos a intermação. Imagine-se em um calor de 30 graus vestindo um casaco de pele.
    • Cães com excesso de pele, com o Shar Pei , também podem sofrer hipertermia pois a superficie exposta ao calor externo é grande em relação ao corpo do animal..
    • Cães não secretam suor, suas raras glândulas sudoríparas encontram-se nos coxins das patas e secretam em situações de estresse, mas não como forma de reduzir a temperatura. Eles só podem contar com a boca para sua regulação térmica.
    • Eles podem beber menos água do que é necessário, especialmente quando brincam ou saem a passear. Quando a privação de água se sobrepoe ao calor  e umidade ambiente o animal estará entrando em zona de alto risco para hipertermia.
    • Aqueles que praticam atividade física em excesso: como cães de corrida (Greyhounds), animais em treinamentos militares e os animais submetidos a caminhadas e exercícios em horários quentes e inapropriados correm sério risco de sofrerem hipertermia.
    Em geral o animal que chegou a perder a consciência durante um episódio de hipertermia precisará, além do resfriamento imediato, receber tratamento veterinário. Alguns ainda acreditam que uma vez reduzida a temperatura cessa o risco de vida, infelizmente isso não é verdade. Há situações em que o cão vem a falecer um a dois dias depois de ocorrida a intermação. Há casos em que os danos serão permanentes.

    Quanto mais  tempo o animal permanecer com a temperatura elevada maiores serão os danos e menores as chances de sobreviver. Antes de levá-lo ao atendimento veterinário devemos iniciar o resfriamento e a forma mais rápida é molhando o corpo com água fria ou por imersão. Sempre de forma gradativa, borrifando água para finalmente o banho de imersão evitando assim o choque térmico.
     O uso de água gelada provocará vasoconstricçao e desconforto retardando ainda mais o resfriamento. A temperatura da água deverá estar entre 25 e 30ºC.

    Evitar É Preciso: então refresque o verão de seu cão


    Resfriar É Preciso: saiba como socorrer um cão hipertérmico.

    Antes de optar por um cão de raça pura considere suas características físicas, temperamento, necessidade de exercícios e aspectos ligados a saúde e cuidados. Um animal é e será sempre dependente. O convívio prazeroso entre vocês se condiciona a sua disposição em atender à demanda do cão.
    Você sabia que um cão bem tratado pode ultrapassar 15 anos de vida?
    Adotar é um compromisso de longo prazo, pense nisso!


    Sirley Vieira Velho
    www.skonbull.com

    Direitos Reservados
    Seja gentil, seja coerente correto: cite a fonte original sempre


    Referências

    1- Richard W. Nelson, C. Guilhermo Couto- Medicina Interna de Pequenos Animais. 4 Edição. Editora Elsevier Ltda, 2010.
    2-William R. Fenner-Consulta Rápida em Clínica Veterinária. 3 Edição- Editora Guanabara Koogan SA, 2003.
    3-Otto M. Radostis, I.G. Joe Mayhew, Doreen M. Houston- Exame Clinico e Diagnóstico Em Veterinária- Editora Guanabara Koogan-2002
    4-Tonon, Elisiane; Ronchi, et all - Estresse oxidativo como evento determinante na síndrome do desconforto respiratório agudo - J. bras. med;98(3):18-l21, jun.-jul. 2010.
    5-Larry Patrick Tilley, Francis W.K. Smith - Consulta Veterinária Em 5 Minutos Espécies Canina e Felina -3ª Edição-  Editora Manole Ltda- 2008.
    6-Douglas K. Macintire, et all-  Emergencia e Cuidados Intensivos em Pequenos Animais- Editora Manole Ltda -2007.
    7-Ana L Huerta-Alardín1, Joseph Varon2 and Paul E Marik- Review Bench-to-bedside review: Rhabdomyolysis – an overview for clinicians-Published online: 20 October 2004 Critical Care 2005, 9:158-169 (DOI 10.1186/cc2978).This article is online at http://ccforum.com/content/9/2/158
    8-Tsai-Hsiu Yang  et all-Attenuation of circulatory shock and cerebral ischemia injury in heat stroke by combination treatment with dexamethasone and hydroxyethyl starch-Yang et al. Experimental & Translational Stroke Medicine 2010, 2:19,http://www.etsmjournal.com/content/2/1/19.
    9-Hilaire J. Thompson- Fever: a concept analysis-Published in final edited form as:J Adv Nurs. 2005 September ; 51(5): 484–492.

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