Segundo Capítulo da Série Zoonoses- Leptospirose

Estamos na primavera, época mais chuvosa do ano na região sul do país. Esse é o momento de estarmos atentos aos riscos da Leptospirose.
Vamos acordar!
 

Eles dormem alheios aos riscos, mas seus donos não.
Leptospirose
É um termo genérico que engloba uma série de doenças agudas e febris causadas por espiroquetas patogênicos do gênero Leptospira. As duas principais espécies são a L. interrogans (patogênica) e a L. biflexa (não patogênica). Outras leptospiras: L. inadai, L. borgpeterseni, L. noguchii, L. santarosai, L. weilii, L. kirshneri, L. meyeri, L. wolbachii.
A doença  existe de forma endêmica em todos os continentes e em condições específicas pode assumir características de surtos epidêmicos. Acomete o homem, animais domésticos e silvestres.
É uma zoonose de ocorrência elevada em nível similar ao da toxoplasmose.
A L. interrogans (patogênica) possui 23 sorogrupos e mais de 250 serovars (refere-se a variações distintas dentro de uma subespécie de bactéria baseada em associações de antígenos de superfície celular) que determinam a severidade da doença juntamente com a susceptibilidade do indivíduo. Os exames para determinação dos serovars se fazem por painéis de soros e não por biologia molecular. No entanto sabe-se que os diversos serovars diferem entre si pela genética e também pela virulência. 


Hospedeiro
O homem é um hospedeiro transitório e casual de leptospiras por um curto período da doença. Nele a cadeia epidemiológica é finalizada. Somente em casos excepcionais ocorre a transmissão inter hominis.
Os animais domésticos e silvestres podem ser portadores assintomáticos,  apresentar manifestações discretas, severas ou mesmo fatais. Dessa forma eles podem se tornar reservatórios de Leptospira.(1)
 
Hospedeiros ou Reservatórios?
Animais domésticos
- cão;
- rato;
- bovinos;
- suínos;
- ovinos;
- caprinos;
- equinos
Animais silvestres
- roedores;
- muitos carnívoros;
- marsupiais;
- coatis e racuns (na América do Norte).

Vacas, porcas, ovelhas, cabras, cadelas e mulheres podem abortar em consequência à infecção por leptospiras. Não costuma haver indicação para o abortamento terapeutico se a gravidez evoluir. Não é comum a ocorrencia de fetos mal formados. Desaconselha-se o aleitamento quando a lactante é exposta ou apresenta sinais da doença, pois o leite pode transmitir a leptospiras.


O rato de esgoto é o maior portador “são” universal, com taxa superior a 60%. Ele se infecta ainda filhote e torna-se reservatório de forma intermitente ou contínua por toda sua vida. Assim ele contamina o ambiente, particularmente a água. Exemplares muito jovens também podem sucumbir por leptospiras.
Na América do Norte o guaxinim urbano é considerado importante reservatório.

Contaminação

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Se dá pelo contato direto ou indireto com a urina de animais infectados. Geralmente a porta de entrada são cortes ou escoriações na pele, mucosas ou conjuntiva. Há controversias sobre a capacidade das leptospiras atravessarem a pele íntegra.

A água exerce papel primordial na transmissão das leptospiras já que a maior parte das contaminações ocorre através dela.  Em toda a parte onde a leptospirose é endêmica há um elo hídrico entre homem e animal. 


 A Doença
Após a exposição ao agente da  leptospirose o organismo pode responder com sintomas pouco específicos semelhantes a um resfriados comum. Nessa fase a adoção de medidas profiláticas , como o uso empírico de antibióticos, pode reduzir a agressividade da fase seguinte da doença. À fase de infecção inicial se sucede outra onde os anticorpos produzidos contra a leptospira passam a agredir também o organismo que os produziu: é a chamada fase autoimune. Ela pode cursar com manifestções de comprometimento hepático, meníngeo, pulmonar ou com coagulopatia e morte. Nesse período o tratamento visa a tomada de medidas de suporte como manutenção de sinais vitais com hidratação, oxigenação adequada, hemodiálise, tratatando as complicações que se sucedem. Não há medicamentos específicos. 
  • A lepstospirose tem apresentação súbita e inespecífica. As manifestações variam desde uma infecção subclínica, seguida por soroconversão (formação de anticorpos).O quadro inicial pode se assemelhar ao de um simples resfriado com coriza, febre, tosse e dores pelo corpo, mialgia importante que impossibilita a deambulação inclusive com elevação de CPK (marcador bioquímico de dano muscular).
  • Evolui como doença febril anictérica que pode ser autolimitada ou evoluir para complicações:  meningite, vasculopatia, falência renal, choque, hemorragia pulmonar e morte.
Estudos recentes mostram que a leptospirose é causa comum de doença febril indiferenciada. O tratamento precoce é essencial uma vez que a antibiótico terapia é de grande ajuda quando adotada no curso incicial da doençal. A opção do médico ou veterinário de iniciar o tratamento empiricamente pode ser a única chance do individuo.
O curso da infecção tem características semelhantes no animal e no homem. O cão pode ser acometido pela forma hemorrágica, grave e não raro fatal. O gato dificilmente adoece. Pessoas ou animais portadores de doença hepática correm mais risco de morte diante da leptospirose.

O tempo de incubação é em média de 10 dias (entre 2 a 26 dias)

No homem a mortalidade por leptospirose caiu um pouco depois que se passou a empregar diálise diária dos doentes graves até remissão total dos sintomas renais. Antes dessa, relativamente, recente mudança de conduta médica a mortalidade variava de 15 a 30%, mas ainda é bastante alta.

Ela pode matar de 10 a 20% dos cães contaminados (5)

São poucos os centros que dispõem de diálise para animais domésticos. Raros são os veterinários que reconhecem na diálise uma poderosa ferramenta para o tratamento dos animais doentes.

Curiosamente as manifestações da leptospirose em doentes infectados pelo HIV são as mesmas evidenciadas nos imunocompetentes.

Diagnóstico laboratorial
Testes sorológicos incluem:
  • teste de aglutinação microscópica (MAT), geralmente títulos superiores a 1:800 são indicativos de infecção atual ou recente por leptospiras (em soro humano podem ocorrer reações cruzadas com outras doenças como sifilis, doença de Lyme e legionella)
  • teste de aglutinação macroscópica;
  • hemaglutinação indireta;
  • ELISA;
  •  Novas técnicas como a reação em cadeia da polimerase (PCR) estão sendo utilizadas contribuindo para a celeridade no diagnóstico.

Vacinar contra leptospirose ou não, eis a questão.
A grande variedade de serovars que podem infectar o homem dificulta a produção de uma vacina para humanos. Já a vacinação para animais, especialmente gado é possível, mas a imunidade dura poucos meses. Até o ano 2000 as vacinas para cães cobriam os serovars canicola e icterohaemorrhagiae, cuja incidência vem diminuindo. Outros serovars também podem infectar os cães como  grippotyphosa, pomona e bratislava. Novas vacinas imunizam também contra os serovars grippotyphosa e pomona.
A vacina contra leptospirose é uma das que mais causa reações adversas, pelo fato de utilizar bactérias inativadas. Sua proteção dura entre 6 e 8 meses. Alguns veterinários recomendam a vacinação de cães  no mínimo após a 12 ou 16 semanas de vida devido aos riscos de reações importantes.
Converse com seu veterinário a respeito do custo beneficio da vacinação para seu animal. Animais que vivam sob condições de risco poderiam se beneficiar pela vacina.

A importância dos animais portadores depende de diferentes fatores, sendo o pH um deles. As leptospiras, apesar de agressivas, são muito sensíveis e no geral não resistem à acidez (pH menor que 7) sendo justamente as patogênicas as mais susceptíveis. A urina do homem, por exemplo, é bastante ácida  não conferindo perigo de contaminação por matar as leptospiras.
Outro fator importante é o ambiente onde vive o animal portador. Os animais que eliminam leptospiras em ambientes desfavoráveis, onde elas sejam rapidamente destruídas, tem pouca importância na transmissão. Portanto um cão, ainda que portador, mas que viva em ambiente limpo, seco e arejado, em tese, não ofereceria riscos. 

 Ambientes de risco: os locais sujeitos a alagamentos, terrenos lamacentos, plantações de arroz. O pH neutro ou ligeiramente básico destes solos e a presença de água contribuem para a sobrevida das leptospiras por dias ou mesmo meses.
Cães que costumam caçar estão mais expostos ao risco de contrair leptospirose.
Assim como acontece com o homem, os animais também se contaminam pelo contato com água infectada.


Desintectando o ambiente:
 
Hipoclorito de sódio (água sanitária) diluído a 10% é a forma prática, barata e eficaz de limpar pisos e calçadas eliminado leptospiras. 
 
Sob o ponto de vista prático
Salvar uma vida depende da identificação precoce da doença e inicio imediato de tratamento. Se houver exposição a riscos, como enchentes, vazamento de esgotos etc, solicite ao veterinário que medique profilaticamente, com antibióticos, o seu cão. O médico provavelmente faria o mesmo por você.
Lembre-se de que seu bichinho só pode contar com você.


É bom saber:
Embora cães estejam relacionadados a algumas zoonoses os riscos de infectarem seus donos são pequenos e podem ser ainda mais reduzidos se adotarmos  simples precauções.

 Leia também: Quem tem medo de Zoonoses? Primeira Parte.

Antes de optar por um cão de raça pura considere suas características físicas, temperamento, necessidade de exercícios e aspectos ligados a saúde e cuidados. Um animal é e será sempre totalmente dependente. O convívio prazeroso entre vocês se condiciona a sua disposição em atender à demanda do cão.

Você sabia que um cão bem tratado pode ultrapassar 15 anos de vida?

Adotar é um compromisso de longo prazo, pense nisso!
Sirley Vieira Velho
http://www.skonbull.com/

Direitos Reservados 
Seja gentil, seja coerente e correto, cite a fonte original sempre! :) 

 
Referências
1- Ricardo Veronesi - Doenças Infecciosas e Parasitárias ; Ed Guanabara Koogan, Rio de Janeiro- RJ
2- Glasser CA - Animal-associated opportunistic infections among persons infected with the human immunodeficiency virus ; Angulo FJ; Rooney JAs;Program in AIDS Prevention Studies, University of California, San Francisco 94105.
3-Yupin Suputtamongkol et all- Strategies for Diagnosis and Threatment of Supected Lepospirosis: A Cost- Benfit Analysis-. Bankok Thailand ; February 2010.
4-Camille N Kotton- Zoonoses From Dogs; http://www.uptodate.com/home/store.do. Maio 2010
5-Gillian D. et all - Increase in seroprevalence of canine leptospirosis and its risks factors; Ontario, Canada 2008.
6 -Kaplan JE; Masur H; Holmes KK- Guidelines for preventing opportunistic infections among HIV-infected persons--2002. Recommendations of the U.S. Public Health Service and the Infectious Diseases Society of America.
7- Centers for Disease Control and Prevention USA http://www.cdc.gov/healthypets/health_prof.htm#petscription
8- Setúbal, Sérgio - Lepospirose,  Faculdade de Medicina, Universidade Federal Fluminense 2004 http://labutes.vilabol.uol.com.br/lepto.htm

2 comentários:

  1. Muito legal vc divulgar seus posts, porque ainda não consegui adicionar ao reader, Sirley! :-(

    Não faço a vacina conjugada para lepstospirose mais aqui, nos filhotes e nem nos adultos. Só aplico a V6.

    Como resido em área urbana e tudo é limpo diariamente, os riscos dos Frenchies adquirirem leptospirose são os mesmos que o da minha família.

    beijocas!

    ResponderExcluir
  2. Pois é Camilli,

    Esse mes mais uma noticia alarmante para nós e demais proprietários "pensantes": a fusão de dois grandes fabricantes de vacinas. Daqui por diante teremos ainda menos opções de escolha.

    Desolador :(

    Sirley

    ResponderExcluir

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